Charlotte Mason na prática, Gramática

Como ensinar gramática – Charlotte Mason na prática #11

Hoje queremos discutir como Charlotte Mason ensinava gramática.

A gramática analisa o sistema e a estrutura de uma língua. Isso é um conceito complexo que exige pensamento abstrato, então Charlotte não iniciava lições formais de gramática até que o aluno tivesse cerca de 10 anos de idade.

Quando falamos sobre aulas de gramática, estamos basicamente falando de conceitos como possessivos, plurais, etc.; pontuação; capitalização; classes gramaticais; e análise de frases.

Claro, seu aluno já tem visto e ouvido esses elementos por vários anos em conversas, nos bons livros vivos usados nas lições escolares, e em suas atividades de cópia e transcrição. Assim, ele já se familiarizou com o ritmo e a consistência de como a língua funciona. Nas aulas de gramática, ele começará a analisar cada componente, além de ver como eles se relacionam com o todo.

Vamos falar sobre como fazer isso da maneira de Charlotte Mason.

O que você vai precisar:

Você precisará de duas coisas: (1) uma explicação direta dos conceitos gramaticais que está estudando e (2) passagens de livros vivos ou alguma boa poesia para prática.

Como ensinar gramática

Para cada conceito gramatical que você quiser abordar, siga três passos.

Passo 1: Sempre que possível, guie seu aluno para observar o conceito por conta própria em passagens de livros vivos. Destaque o conceito onde puder e incentive-o a procurar padrões, semelhanças e diferenças. Ajude-o a comparar e contrastar esse conceito com o que ele já sabe ou observou em outros lugares e incentive-o a criar suas próprias regras ou diretrizes com base em suas descobertas pessoais.

Passo 2: Apresente uma explicação direta e sucinta do conceito para confirmar ou esclarecer as observações do aluno e, possivelmente, expandir o que ele notou.

Passo 3: Atribua ao aluno passagens de livros vivos ou boas poesias para praticar trabalhar com aquele conceito.

Aqui está um exemplo retirado do livro Using Language Well. A lição 8 faz referência a uma citação de Shakespeare:

“Uma alma desgraçada, ferida pela adversidade,
Mandamos que se acalme quando a ouvimos chorar;
Mas, se estivéssemos carregados com igual peso de dor,
Tanto ou mais deveríamos nós mesmos reclamar”

O aluno já aprendeu sobre substantivos em lições anteriores, então nesta lição ele é solicitado a encontrar dois substantivos na primeira linha dessa citação. Ele está praticando e se preparando para a próxima descoberta. Ele identifica “alma” e “adversidade” como substantivos na primeira linha.

Agora, destacamos um novo conceito e o incentivamos a descobrir por si mesmo. “A segunda linha contém a pequena palavra a. A que palavra da primeira linha ase refere?” O aluno identifica “alma” como a palavra à qual ase refere.

É hora de uma explicação direta: “a é um pronome. Um pronome é uma palavra usada no lugar de um substantivo.”

Isso já é o suficiente por enquanto. Deixamos o conceito sedimentar e praticamos na próxima lição. Na Lição 9, trabalhamos com uma citação:

“Essas rosas sob minha janela não fazem referência a rosas anteriores ou a rosas melhores; elas são o que são; elas existem com Deus hoje.”

Então destacamos seis palavras nessa passagem e pedimos se cada uma é um substantivo ou um pronome; e para cada pronome, por favor, diga qual substantivo ele substitui.

Assim, “rosas” é um substantivo ou pronome? Sim, é um substantivo.
“Elas”—substantivo ou pronome? É um pronome. A que substantivo elas se refere? Certo, “rosas”.
E assim por diante, praticando o mesmo conceito com mais algumas palavras.

Destacamos um novo conceito e tentamos ajudar o aluno a fazer uma descoberta por conta própria, se possível; depois apresentamos a explicação direta e damos ao aluno a oportunidade de praticar com passagens de livros vivos.

Agora, assim como no exercício de cópia e transcrição você quer que seu filho veja a ortografia correta o máximo possível, na gramática você quer que seu aluno veja o conceito gramatical apresentado corretamente o máximo possível. Evite recursos que apresentam um modelo errado e peça ao aluno para corrigi-lo. Em vez disso, faça-o praticar trabalhando com o conceito da maneira correta. Quanto mais ele vê o conceito sendo apresentado corretamente, mais esse padrão correto será reforçado em sua mente. Então, quando ele vir o conceito apresentado de maneira incorreta, talvez em uma narração escrita por ele em algum momento, esse padrão incorreto se destacará como “Isso não parece certo; algo está errado aqui.” Mas se você mostrar a ele repetidamente modelos incorretos, isso pode facilmente criar uma dúvida mental: “Eu vi das duas formas; qual está correta?” Portanto, evite recursos que mostrem intencionalmente um modelo incorreto—tanto na ortografia quanto na gramática.

Aumentar ou diminuir o nível

Na gramática, assim como na matemática, você quer ter cuidado ao progredir no ritmo do seu filho, assegurando-se de que o terreno esteja firme antes de dar o próximo passo. Vamos pensar em algumas ideias para ajustar o nível dos estudos de gramática para melhor se adequar ao seu aluno.

Primeiro, deixe-me reiterar que Charlotte não começava lições formais de gramática até que o aluno tivesse cerca de 10 anos de idade. Se o seu aluno for mais jovem do que isso, espere. Não há razão para tentar simplificar as aulas de gramática para crianças pequenas. Suas mentes ainda não estão prontas para fazer uma análise abstrata profunda. Continue apenas estabelecendo a base com boas conversas, lendo juntos livros vivos de boa qualidade, e fazendo cópias ou transcrições de passagens valiosas.

Mas se o seu filho estiver perto dos 10 anos ou mais velho, aqui estão algumas maneiras de ajustar o nível de seus estudos gramaticais. Todas essas ideias têm a ver com o terceiro passo do processo de estudo: praticar com passagens de livros vivos.

Uma maneira fácil de começar esse processo de prática é apresentar uma frase completa ou duas de um livro vivo ou várias linhas de um bom poema, mas destacar apenas algumas palavras ou marcas de pontuação ou capitalização nessa passagem para a prática. Você poderia começar apontando apenas um sinal de pontuação para o aluno identificar e dizer por que ele está ali. Ou você poderia focar em duas letras maiúsculas na passagem e pedir ao aluno que diga por que elas estão em maiúsculas. Ou você poderia destacar três ou quatro palavras na passagem e pedir ao aluno que identifique a classe gramatical de cada uma. Você pode adaptar essa tarefa, dependendo de qual conceito gramatical seu aluno está estudando no momento; mas focar em apenas alguns elementos na passagem viva é um bom ponto de partida para simplificar.

A partir daí, você pode aumentar gradualmente o número de palavras maiúsculas, pontuações ou classes gramaticais que deseja que o aluno identifique na passagem. Eventualmente (e gradualmente), você poderá pedir ao aluno para identificar cada palavra maiúscula e explicar por que ela está em maiúscula; ou identificar cada sinal de pontuação na passagem e dizer por que ele está ali; ou analisar uma frase inteira, identificando a classe gramatical de cada palavra.

Esse nível cobre basicamente os aspectos de capitalização, pontuação e classes gramaticais, mas você pode elevar ainda mais com a análise de frases. Depois que o aluno souber as classes gramaticais e puder identificar cada palavra, ou analisar uma frase, você pode guiá-lo para analisar como essas palavras se relacionam entre si dentro da frase. Ele pode começar a procurar por sujeitos, verbos, modificadores, frases e orações.

Simplifique usando frases mais curtas e simples enquanto seu aluno está aprendendo e ganhando experiência. Então, gradualmente, vá trabalhando com frases mais longas e difíceis para serem analisadas.

Cabe a você escolher como deseja abordar a análise. Alguns pais gostam de usar um sistema de diagramas, mas existem outras maneiras de marcar uma frase conforme ela é analisada. Você pode empregar um sistema diferente que incentiva o aluno a fazer marcas dentro da própria frase enquanto a analisa. Cabe a você decidir qual sistema deseja usar; o importante é ajudar o aluno a entender como as palavras e frases dentro de uma sentença se relacionam, para que ele possa continuar a crescer em suas próprias habilidades de comunicação. Pois esse é o objetivo do estudo da gramática: aplicar o que você descobre à sua própria comunicação, para garantir que você esteja transmitindo suas ideias com precisão, clareza e eficácia.

E é assim que a abordagem Charlotte Mason ensina gramática.

Originalmente publicado por simplycharlottemason.com. Traduzido e usado com permissão.

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