Alguém uma vez disse: “Uma mãe é apenas uma mulher, mas ela precisa do amor de Jacó, da paciência de Jó, da sabedoria de Moisés, da visão de José, e da firmeza de Daniel“. Mas uma mãe não tem apenas que ter todas essas coisas; ela deve tê-las todas de uma só vez, muitas vezes quando é bastante jovem e muitas vezes quando não teve nenhum treinamento prévio de qualquer tipo nas incríveis variadas tarefas que ela precisa realizar. Para levar a um caso extremo, de uma só vez, uma jovem que foi sempre blindada e protegida em sua vida, não apenas de cada problema, mas de cada experiência de vida, torna-se responsável pela felicidade doméstica de seu marido, e – como se isso não fosse suficiente – pela saúde e felicidade de um número menor ou maior de seres humanos em crescimento, e também por ajudantes que ela contrata, que devem ser dirigidos, controlados, encorajados ou reprovados, assim como, conduzidos com segurança através das inúmeros perigos do serviço doméstico. Antes de se casar, ela pouco imagina as extremas dificuldades de administrar a mais complicada das máquinas, um ambiente doméstico – não por apenas uma semana, durante a ausência de sua mãe, mas ano após ano, sem parada ou descanso, durante o resto de sua vida.
Se essas duas coisas são difíceis, o caso é mais complicado quando uma responsabilidade totalmente nova recai sobre ela, e não apenas sobre sua própria saúde, mas sobre as de outras pessoas que dependem de como ela administra sua vida. E então, talvez, no momento em que ela está compreendendo a situação, e uma criança preenche todo o seu coração, mais espaço na casa é requisitado, e mais e mais, e as perguntas dos empregados continuam, a gestão das despesas continua, o desejo de ser, mais do que nunca, a companheira de seu marido fica cada vez mais forte, e o centro de tudo isso é uma pequena mulher – esposa, mãe, dona de casa, tudo em um! Então é que ela fica sobrecarregada. Então, é que ela se desgasta. Então é que, em seus esforços para ser a esposa, mãe e dona de casa ideal, ela se esquece de quem ela é. Então é que, de fato, ela para de crescer.
Não há visão mais triste na vida do que uma mãe, que se esgotou tanto na infância de seus filhos, que não tem nada a dar a eles na juventude. Quando a infância termina e a escola começa, quantas vezes as crianças buscam provar que sua mãe está errada? Você vê com muita frequência uma criança tentando provar que seu pai está errado? Eu acho que não. Pois o pai está crescendo com muito mais frequência do que a mãe. Ele está ganhando experiência ano após ano, mas ela está parada. Então, quando seus filhos chegam ao momento mais difícil entre a infância e o pleno desenvolvimento, ela não se sente satisfeita; e, embora ela possa fazer muito por seus filhos, ela não pode fazer tudo o que poderia, se ela, como eles, estivesse crescendo!
Não há alguma necessidade de “cultura materna”? Mas como o estado das coisas pode ser alterado? Tantas mães dizem: “Simplesmente não tenho tempo para mim!“, “Eu nunca li um livro!” Ou então: “Eu não acho correto pensar em mim!” Elas não apenas passam fome intelectual, mas o fazem deliberadamente, e com um senso de abnegação que parece fornecer uma ampla justificativa. Além disso, infelizmente, há tantas pessoas que acham esse tipo de coisa tão adorável que a opinião pública parece justificá-la. Mas será que a opinião pública justifica alguma coisa? Justificará amarras apertadas – ou saltos altos – ou rédeas de cavalos? A opinião pública nunca consegue justificar nada que tenha o tom de “Ah, é apenas uma mãe” direcionado a qualquer mulher jovem.
Esse tom não é o certo. Mas ele pode ser alterado? Cada mãe deve resolver isso por si mesma. Ela deve pesar as coisas na balança. Ela deve ver qual é o mais importante – o tempo gasto em luxuoso regozijo sobre os encantos de seu fascinante bebê, ou o que ela pode fazer com esse tempo para se manter “crescendo” para o bem “futuro” daquele bebê, quando ele desejará ainda mais estar com ela do que agora.
A única maneira de fazê-lo é ficar tão fortemente impressionada com sua própria necessidade de crescer que ela mesma a torne um objeto real na vida. Ela raramente pode ser ajudada por outros. A resoluta senhorita Menina-de-Três-Anos em sua cadeira em uma ponta da mesa com seus brinquedos, o senhor Cinco-Anos na outra com suas ocupações, e o fascinante senhor Bebê no tapete no chão com seu anel e sua bola – e o anúncio: “Agora mamãe vai ficar ocupada” – trará àqueles jovens um mundo de benefícios! Embora a mãe perca alguns de seus encantos, eles ganharão respeito pelo tempo da mãe, e alguma autossuficiência, enquanto as costas cansadas da mãe descansam, nem que seja por pouco tempo, seja no sofá ou no chão. Então ela pode ouvir seus filhos, e talvez fazer um pouco de reflexão – não sobre vestidos e alimentos, mas sobre caracteres, e como lidar com eles; ou ela pode pegar um livro, e “crescer” por meio dele. Isto ajudaria em algo, mas não o suficiente. A mãe deve ter tempo para si mesma. E não devemos dizer “eu não posso”. Alguma de nós pode dizer, até que tenha tentado, não por uma semana, mas por um ano inteiro, dia após dia, que “não podemos” obter pelo menos meia hora do total de vinte e quatro horas para “Cultura Materna”? Uma meia hora na qual podemos ler, pensar, ou “lembrar”.
O hábito de ler é tão facilmente perdido; não tanto, talvez, a capacidade de apreciar os livros, mas a capacidade real de ler. É incrível como, depois de não poder usar os olhos por um tempo, o hábito de ler rápido tem que ser dolorosamente recuperado. O poder de ler rápido é muito desejável, e as pessoas que leem cada palavra são tristemente deixadas para trás pelas pessoas que leem várias sentenças num relance. Este poder é o que nossos filhos estão ganhando na escola, e este poder é o que estamos perdendo quando nos recusamos a dar um pouco de tempo de nossas vidas à “Cultura Materna”. Vale a pena obter e manter este hábito; e para fazer isso, não é necessário ler livros “enfadonhos”.
A mulher mais sábia que eu já conheci – a melhor esposa, a melhor mãe, a melhor dona de casa, a melhor amiga – me contou uma vez, quando lhe perguntei como, com sua saúde fraca e tantas demandas para seu tempo, ela conseguiu ler tanto: “Eu sempre mantenho três leituras – um livro difícil, um livro moderadamente fácil e um romance, e eu sempre pego aquele pelo qual me sinto apta no momento“! Esse é o segredo; ter sempre algo “acontecendo” para seu crescimento. Se todas nós mães estivéssemos “crescendo”, haveria menos desvios entre nossos meninos, menos distanciamento de pensamento entre nós e nossas meninas.
Seria como se nós mães muitas vezes simplesmente criássemos para nós mesmas as dificuldades que encontramos depois na vida, fechando nossas mentes no presente. O que precisamos é do hábito de tirar nossas mentes do que alguém chamaria de “o saco de retalhos doméstico” das confusões, e dar-lhe um bom arejamento em algo que a mantenha “crescendo”. Uma caminhada rápida pode ajudar. Mas, se quisermos o melhor para nossos filhos, devemos crescer; e de nosso poder de crescimento certamente depende, não apenas a nossa felicidade futura, mas também a nossa utilidade futura.
Não há, portanto, necessidade de mais “Cultura Materna”?
The Parents’ Review – Traduzido do original em domínio público.