Leitura em voz alta, Literatura

Lendo para o deleite dos outros – Parte 5

Ler bem em voz alta é uma forma de arte e uma habilidade que faríamos bem em praticar, especialmente aqueles de nós que usam o método Charlotte Mason para a educação domiciliar. A leitura em voz alta ocupa um lugar de destaque na abordagem educacional da Charlotte. Cabe a nós tornar esse momento um prazer para nossos ouvintes.

Por isso temos dedicado vários posts a dicas de como ler bem em voz alta. Ao encerrarmos esta série, quero abordar a leitura de poesia em voz alta. Muitos de nós temos fobia de poesia em geral e, especificamente, de ler poesia em voz alta. Provavelmente, ouvimos muitos exemplos ruins de leituras de poesia e podemos nos sentir menos confiantes com esse gênero de literatura.

Charlotte Mason adorava poesia e incentivava os alunos a praticar bastante a leitura de poesia em voz alta. Ela queria que seus alunos percebessem “que as palavras são belas em si mesmas” e contava com a leitura do educador ou do professor para dar o exemplo.

Ler poesia em voz alta

A boa notícia é que as mesmas dicas que já examinamos também se aplicam à leitura de poesia.

  • Respire pelo nariz, não pela boca.
  • Diminua a velocidade e olhe para frente, para ler sem problemas.
  • Coloque consoantes finais nas palavras para melhorar sua pronúncia.
  • Faça sua “leitura simpática”, expressando fielmente o coração do autor em suas palavras.

Mas a poesia parece diferente. Talvez seja porque a maior parte da poesia tem um senso de ritmo, e é aí que nos sentimos presos.

Dica de leitura de poesia nº 1: Esteja atento ao ritmo, mas não se torne refém dele.

Leia em voz alta os dois versos abaixo e veja se consegue encontrar o ritmo que eles seguem:
Thank you for the birds that sing;
Thank you, God, for everything

Você provavelmente pode sentir o ritmo das sílabas assim, em um padrão 1-2, 1-2:
THANK you FOR the BIRDS that SING;
THANK you, GOD, for EV-ryTHING

O truque é estar ciente desse ritmo e complementá-lo em seu fraseado, mas não o leia com uma voz cantante que foca cada palavra em maiúscula. Em outras palavras, não exagere. Deixe o ritmo ser uma camada sutil do poema, não o foco dele.

Apenas por diversão, tente este também. Leia em voz alta e observe como o ritmo é diferente dos versos anteriores:
Over the river and through the wood,
To grandfather’s house we go

Este poema tem uma sensação mais cadenciada de 1-2-3, 1-2-3:
O-ver the RI-ver and THROUGH the WOOD,
to GRANDfather’s HOUSE we GO

Agora veja se você pode ler os dois pares de versos em voz alta de uma forma que demonstre a diferença em seus ritmos, mas não dê a seus ritmos uma quantidade exagerada de atenção.

Claro, nem todo poema terá um ritmo predominante, mas muitos sim. E quando tiverem, faça a recitação de uma maneira que complemente o ritmo, mas não deixe que ele domine tudo.

Dica de leitura de poesia nº 2: deixe a pontuação guiar suas pausas, não as quebras de linha.

Uma ótima seção para praticar esta dica são estas linhas de To a Skylark , de William Wordsworth:
Leave to the nightingale her shady wood;
A privacy of glorious light is thine,
Whence thou doest pour upon the world a flood
Of harmony, with instinct more divine

Observe como a frase e as ideias continuam além da quebra de linha no final da terceira linha: “a flood of harmony”. Se você deixar a quebra de linha ditar uma pausa ao ler este poema em voz alta, seu ouvinte terá um entendimento equivocado de uma cotovia derramando sobre o mundo uma inundação! E então começar o próximo trecho com “Of harmony” não faria sentido e confundiria ainda mais o seu ouvinte.

Assim como quando você lê biografias, contos e fábulas e outros tipos de prosa, procure a pontuação para guiar suas pausas. Não pare automaticamente no final de cada linha.

Dica de leitura de poesia nº 3: Concentre-se em comunicar a mensagem do poema.

A razão pela qual não devemos dar ênfase indevida ao ritmo do poema ou pararmos a cada quebra de linha é porque estamos tentando transmitir o significado do poema. Esse é o objetivo final. Portanto, incentive seus alunos a atingirem esse objetivo, mesmo que você também ainda dê passos nessa direção.

Charlotte Mason enfatizou esse objetivo tanto para o educador quanto para o aluno.

“Ele deveria ter prática, também, na leitura em voz alta, na maior parte, dos livros que está usando para o trabalho de seu semestre. Isso deve incluir muita poesia, para acostumá-lo à delicada interpretação de nuances de significado e, especialmente, para torná-lo consciente de que as palavras são belas em si mesmas, que são uma fonte de prazer e são dignas de nossa honra; e que uma palavra bonita merece ser dita belamente, com certa redondeza de tom e precisão de elocução. Crianças bem pequenas estão abertas a esse tipo de ensino, transmitido não em uma aula, mas em alguns momentos livres

“Nesse contexto, o educador não deve confiar em estabelecer, por assim dizer, um modelo de cópia para a imitação das crianças. Eles imitam prontamente, captando truques de ênfase e gestos de uma maneira divertida; mas estes são meros truques, um macaqueamento. A criança deve expressar o que sente ser o significado do poema; e esse tipo de leitura inteligente vem apenas do hábito de ler com compreensão” (Vol. 1, p. 228).

Dê um bom exemplo ao ler em voz alta, mas não exija que seus alunos copiem seu estilo e entonações. A leitura de poesia – ou qualquer leitura em voz alta – não deve ser um exercício de mímica. Incentive cada aluno a ler com a mente e o coração engajados, a fim de discernir o significado que o autor pensou para o poema e, então, transmitir esse significado à sua própria maneira, ao compartilhá-lo verbalmente.

Pois depois de tudo dito e feito, esse é o objetivo final de qualquer leitura em voz alta: comunicar fielmente o coração do autor com as palavras que ele escolheu.

Um brinde a muitas horas felizes de leitura em voz alta para o deleite dos outros!

Originalmente publicado por simplycharlottemason.com. Traduzido e usado com permissão.

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