Leitura em voz alta, Literatura

Lendo para o deleite dos outros – Parte 4

Certa vez, trabalhei com uma organista que havia aprendido a mecânica de tocar o instrumento. Ela também havia sido ensinada sobre “tocar com sentimento” e teve o cuidado de variar a velocidade e o volume da peça que executava. O único problema era que ela fazia essas variações aleatoriamente. Isso não ajudava em nada para comunicar a música em si ou o que o compositor pretendia ou sentiu ao criá-la.

Provavelmente todos nós já ouvimos leitores que fazem a mesma coisa. Eles são cuidadosos na pronúncia e praticaram o suficiente para não tropeçar nas palavras, mas parecem manter a passagem à distância. E não estou me referindo a um problema de visão. Estou falando sobre ler emocionalmente à distância. É como se não tivessem se sintonizado com o autor. Eles não compartilham dos mesmos sentimentos e, portanto, não estão comunicando o coração do autor.

Charlotte Mason nos incentivou a fazer o que ela chamava de leitura “simpática”.

Lendo com Simpatia

“Se a leitura deve ser agradável para os ouvintes, a própria leitura deve ser distinta, fácil e simpática” (Vol. 5, p. 220).

Nesta série sobre leitura em voz alta, já vimos como tornar nossa leitura “distinta”, pronunciando com clareza, e “fácil”, olhando para frente para não tropeçar.

O terceiro componente que Charlotte chamou nossa atenção é a leitura “simpática”. Simpatia significa compartilhar ou compreender os sentimentos ou ideias de alguém — neste caso, o autor do livro que estamos lendo em voz alta. Denota um entendimento entre as pessoas, um sentimento comum.

Ao ler em voz alta, você tem o privilégio e a responsabilidade de comunicar o que o autor pretendia. Portanto, é óbvio que você mesmo precisa entender a passagem primeiro. Mas você também precisa transmitir essa intenção ao proferir as palavras dele.

Pense em quais palavras devem ser enfatizadas para melhor transmitir o significado. Se expresse adequadamente, mas não apenas aumente ou diminua o tom de voz aleatoriamente: reproduza as falas. Conte a história. Pinte a cena. Não apenas leia o que está escrito.

Este não é o momento para ser tímido. Você recebeu uma confiança do autor para comunicar seu coração. Ao abordar essa responsabilidade com cuidado e entusiasmo, seus filhos acharão mais fácil prestar atenção e aprender.

“O professor lê com a intenção de que as crianças saibam e, portanto, com nitidez, força e pronúncia cuidadosa; é uma questão de simpatia, embora é claro que é o autor e não ele mesmo, a quem o educador tem o cuidado de reproduzir” (Vol. 6, p. 244).

Escute a si mesmo. Comece com uma passagem curta. Grave a si mesmo lendo um parágrafo, depois reproduza e ouça de verdade. A leitura prende sua atenção e transmite o coração do autor? Você consegue entender as palavras claramente? Como é o ritmo e a suavidade da leitura?

Se você não gosta do que ouve, tome medidas para melhorar. Como acontece com qualquer coisa que valha a pena, é preciso prática para chegar à perfeição. Quanto mais você treina, mais fácil vai ficar.

E o melhor de tudo, nesta arte de ler bem em voz alta, qualquer esforço que você fizer – grande ou pequeno – aumentará o prazer de seus entes queridos que estão ouvindo.

Na próxima semana, encerraremos esta série com algumas dicas sobre a leitura de poesia em voz alta.

 

Originalmente publicado por simplycharlottemason.com. Traduzido e usado com permissão.

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